quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Ex-nadadora Rebeca Gusmão também se manifesta sobre declaração de Padre Marcelo Rossi: "O tratamento com o psiquiatra e o psicólogo são de fundamental importância"

A ex-nadadora Rebeca Gusmão
A recente declaração do padre Marcelo Rossi trouxe à tona um debate sobre depressão. O líder religioso disse que não teve acompanhamento médico e nem recorreu a remédios para curar a doença e que conseguiu superar o problema somente com a fé. Em carta enviada ao jornal EXTRA, a ex-nadadora Rebeca Gusmão* conta sobre a experiência que teve para superar o distúrbio. No texto, Rebeca defende o uso de medicina para a cura da doença.

Confira:

De todas as lesões e problemas que tive na minha vida, a depressão foi a pior. Em 2007, com a minha suspensão do esporte, fiquei transtornada e optei por não procurar ajuda psicológica. Com a opção, ganhei peso e cheguei aos 104 kg. Fui massacrada por muitas pessoas, motivo de chacota nas rodas porque o pior veneno que existe é o ser humano. Minha família me perguntou várias vezes se eu não precisava de um acompanhamento psiquiátrico, mas sempre respondia: ''Eu preciso sentir isso, essa dor, isso vai me ajudar a ser mais forte''. Deus foi um porto para mim naquela época, o que não imaginava era o que aconteceria alguns anos depois...

Já deprimida com a perda do que mais amava e a frustração do meu casamento, com o término entrei em uma depressão profunda. Você entra em um mundo estranho, sem sentido, não consegue ter sentimento por nada e por ninguém, mas sente uma dor que parece ser física e que nunca passa. É aí que você começa a pedir para Deus te levar, te dar força, fazer parar aquele sofrimento. Só quem tem ou teve depressão sabe como é. Antes, eu achava que era frescura, mas é uma coisa química assim como a diabetes, problema de tireoide. Você precisa tratar... Cheguei a pesar 64kg e tenho 1,78m de altura. Estava doente de verdade e foi quando gritei por ajuda e fui internada pela primeira vez.

O tratamento com o psiquiatra e o psicólogo são de fundamental importância. Estava indo para a igreja todos os dias e não tenho dúvida de que Deus esteve comigo em todos os momentos. Mas meu grito por ajuda foi por Ele. Ele que me fez gritar. A depressão é ausência de serotonina no nosso corpo e somente a medicação pode ajudar a melhorar. E ela não tem cura imediata. Devo ficar sempre atenta às pequenas baixas porque cada crise é pior que a outra.

Vi pessoas próximas de mim morrerem... O que muitos acreditam é que você tem que se entupir de remédio e não é verdade. Como todo tratamento, por um tempo você passa, sim, a tomar mais medicamentos, mas com o tempo vai diminuindo. Às vezes me sentia tão bem que pensava: "Pronto estou curada, não preciso tomar mais nada". E ficava duas, três semanas sem medicamento. Depois, começavam a vir pensamentos ruins, aquela tristeza, e quando ia ao psicólogo, ele logo perguntava pelo tratamento. Era só voltar a tomar e alguns dias depois me sentia bem de novo.

Hoje tomo somente um remédio. Acredito que Deus deu o dom da medicina para o homem justamente para isso: ajudar a se sentir bem. Respeito a decisão das pessoas, mas como passei por isso, percebi que ter uma equipe especializada é a melhor coisa do mundo. Assim como o atleta precisa do técnico, do preparador físico. Tenho certeza que se eu tivesse procurado ajuda médica da primeira vez, poderia ter evitado uma segunda crise. Hoje já prefiro evitar uma terceira.

A família e os amigos foram fundamentais porque no início do tratamento, quando você passa a voltar a ter sentimentos, tudo vem como um turbilhão. Raiva, ódio, amor, choro, alegria, euforia (...), tudo misturado de uma vez só. A paciência é fundamental. Minha madrinha ia todos os dias me tirar de cima da cama e me levava para nadar na academia; minhas amigas me pegavam e me levavam para fazer crossfit. E a família também precisa de auxilio psicológico. Minha psicóloga chegou a fazer sessão em família e separada com meus pais e pessoas mais próximas de mim. Nada é fácil. Hoje graças a Deus, à medicina, a minha família e aos meus amigos estou bem. Estou melhor física, mental e espiritualmente. Dou até palestras sobre depressão. Sem dúvida, nos dias de hoje, a doença é a maior "epidemia" que existe. 

* Rebeca Gusmão passou por duas depressões e teve variações de peso após o afastamento do esporte e o término de seu casamento.

(fonte: Jornal Extra; fotos retiradas da internet)

Um comentário:

  1. Ponto pra Rebeca. E vale lembrar que a alguns anos atrás o padre Marcelo Rossi disse "O dia em que for provado que homossexualismo é doença serão mudados muitos pensamentos" Que frase infeliz, espero que ele tenha mudado de pensamento.

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