terça-feira, 26 de novembro de 2013

Peço que me desculpem pela ausência, mas estou em período de provas, em busca da realização de um sonho antigo e sem tempo para me dedicar ao blog, esse meu xodó... 

Queria eu poder somente viver para escrever e escrever para viver...
mas ainda não me dou a esse luxo, e
enquanto esse dia não chega, preciso correr atrás! :)

Em breve tudo se normaliza e volto a postar para vocês com o mesmo carinho de sempre. Grande abraço, saúde, paz e 
coragem! <3

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

300 MIL!!!

Alcançamos trezentas mil visualizações!
Incrível... muito obrigada a todos vocês, espero poder ajudar cada vez mais.
Muito amor, paz e coragem para todos nós! <3

sábado, 9 de novembro de 2013

Rivotril? - Eis a questão

                                                           Imagem: internet
Esta semana, coincidentemente, recebi e-mails e mensagens de várias pessoas em crise de pânico com medo de tomar um ansiolítico - mais precisamente o Rivotril.

Em primeiro lugar, gostaria de lembrar que não sou médica, nem psicóloga. Sou apenas uma portadora de pânico e de ansiedade generalizada há pelo menos 16 anos, que leva a sério seu tratamento com terapia e medicação (inclusive Rivotril, quando necessário). Já comi o pão que o diabo amassou por causa da ansiedade, mas,
com muita força de vontade e acompanhamento profissional adequado, estou conseguindo ter minha vida de volta - de bônus, um estimulante recomeço.

Tendo isso esclarecido, me sinto à vontade em dar minha opinião: Rivotril é coisa séria sim, pode causar dependência sim e deve ser usado com muita responsabilidade, somente com prescrição médica. Mas se houver essa prescrição médica, aconselho que tome.

Quando estamos num período de crises de pânico, principalmente quando temos as primeiras crises e não sabemos como controlá-las, o ansiolítico ajuda muito. Ele relaxa, diminui as sensações ruins da ansiedade.
Ansiedade que acelera o nosso batimento cardíaco e que, com isso, prejudica a nossa respiração e faz a gente sentir falta de ar, além de pressão no peito,
formigamentos...

Eu raramente faço uso de Rivotril. Tomei pela última vez há dois meses, quando viajei de avião depois de passar dez anos me esquivando dessa situação! Como não se pede para parar um avião da mesma forma como se pede para parar um ônibus, eu ficava imaginando o que eu faria se tivesse uma crise de pânico durante o voo. Me sentia mal só de pensar na vergonha que eu poderia passar e fazer minha família passar junto! Mas deu tudo certo, e agradeço por ter levado meu Rivotril na bolsa. Mesmo tendo feito todo um "trabalho de base" com a minha psicóloga e com a minha psiquiatra, me senti bem mais segura. E com a ansiedade controlada, pude curtir a viagem, sem nenhum problema.
(aproveite para ler o post Superação - Férias!, onde falo mais sobre essa minha experiência)


No mês passado, a Veja Rio publicou uma matéria de capa sobre o Rivotril e vou compartilhar com vocês os trechos que achei mais interessantes. Caso queiram ler a reportagem completa, aí vai o link.
 
Cabe a cada um, obviamente, julgar o que é melhor para si. Estou aqui apenas dando minha opinião fundamentada na minha vivência com a doença, ok? Consulte sempre um médico! Não custa lembrar!... ;)


Coragem! Paz! <3


No astral do Rivotril 

Indicado para tratar síndrome do pânico e fobias, o medicamento de tarja preta é adotado por cariocas como panaceia para as tensões do dia a dia
Por Sofia Cerqueira

- De acordo com dados de mercado, trata-se do calmante mais consumido no Rio, à frente de drogas para impotência sexual e hipertensão.

- "Para muita gente funciona como se fosse o velho copinho de água com açúcar, o que evidentemente é um exagero", compara a médica Fátima Vasconcellos, presidente da Associação Psiquiátrica do Estado e chefe de clínica do Serviço de Psiquiatra da Santa Casa.

- Chamado de "pílula da felicidade", "comprimido do relax" ou "gotinha da paz" em sua versão líquida, o Rivotril desfruta uma aura pop incomum para um medicamento. (...) Apenas na internet, há mais de oitenta páginas espalhadas pelas redes sociais fazendo alusão ao uso do remédio ou estampando o seu nome. 

- Boa parte dessa popularidade vem dos efeitos do Rivotril, que desacelera o sistema nervoso central, nocauteando um grupo de neurotransmissores e reduzindo as respostas aos estímulos externos. Como resultado, induz a um relaxamento muscular, a uma sensação de tranquilidade, chegando à sedação leve, no caso de doses mais altas. Quem toma explica que o efeito é parecido com o do consumo de uma ou duas doses de álcool, mas mantendo a clareza dos pensamentos e uma impressão de calma e paz.

- É inegável que uma droga tão bem-sucedida traz benefícios às pessoas que a consomem. A questão central, evidentemente, não é o remédio. O problema aparece quando, sem o monitoramento adequado, ele se transforma em muleta diante da mais prosaica das adversidades.

- Com o ritmo de vida acelerado e a contínua exposição a pressões (sejam pessoais, sejam profissionais), um em cada três moradores de regiões metropolitanas apresenta distúrbios decorrentes da ansiedade. Os problemas com o sono também são muito frequentes: estima-se que atinjam de 15% a 27% da população adulta. Não à toa, suas vendas, somadas às das versões genéricas comercializadas sob o nome de Clonazepam, crescem ao ritmo de 15% ao ano. 


- "Prescrito de forma correta e por um tempo adequado, o remédio é muito seguro e eficaz", defende o psiquiatra Antonio Egidio Nardi, professor titular da Faculdade de Medicina da UFRJ e uma das maiores autoridades em transtornos de ansiedade no país. 

domingo, 3 de novembro de 2013

Por uma infância saudável e um adulto são

Um dos meus objetivos com o Sem Transtorno é conscientizar pais e educadores sobre a importância de proporcionar à criança uma infância saudável para que, no futuro, essa criança se torne um adulto psicologicamente seguro. 

A minha experiência me serve de motivação para clamar por isso e tentar evitar que outras tantas crianças sofram as consequências de uma negligência - mesmo que essa negligência seja involuntária. Por isso, gostaria de contar um pouco da minha história para vocês.
Dessa vez não serei tão "branda" como de costume. O assunto é hard e não tenho como florear muito, espero que compreendam!


Sou filha única de pais tardios. Quando nasci, minha mãe tinha 42 anos e meu pai 44. Ela japonesa, ele filho de espanhóis; machista e moralista. Nos dias de hoje isso pode não fazer muita diferença, várias amigas minhas decidiram ser mães aos 40 por diversos motivos. Mas na minha infância, lembro que fazia diferença sim. Além da diferença de idade entre nós, havia a diferença cultural também. Minha mãe veio criança para o Brasil, mas agia como se ainda vivesse no Japão. Quando criança, eu não podia pintar as unhas nem de esmalte clarinho, usar batom mesmo que fosse clarinho também, falar palavras feias ("droga", por exemplo, era um palavrão pra ela), só fui furar as orelhas pré-adolescente e porque insisti muito. E isso, pra uma criança, não é fácil de administrar. Criança quer ser aceita, fazer parte da turma, ser igual ou melhor do que os coleguinhas. O problema é que qualquer coisa boba pode se tornar motivo para ser descriminado e virar chacota. Certas crianças saberão lidar bem com isso, outras sofrerão mais do que o necessário. Eu até que me virava bem.

Sempre fui muito mimada. Tinha os melhores brinquedos, as melhores roupas, bastava dizer "eu quero" que conseguia qualquer coisa. Meus pais trabalhavam fora de segunda a sábado, o dia todo, ambos no comércio. 
Meu pai era sócio em duas joalherias em Copacabana e minha mãe era vendedora em uma joalheria muito famosa, em Ipanema. Por ser uma das únicas japonesas e tão competente no que fazia, era muito requisitada (os japoneses eram ótimos compradores). Ela diversas vezes trabalhava aos domingos e feriados também. E para compensar a ausência, presentes e mais presentes fora de hora para mim.
Nada de apanhar, nada de ficar de castigo, nada de limites. Se tirava notas boas, ótimo. Se não tirava, também. Nada mudava.


Minha rotina era acompanhada de perto pelas empregadas da nossa casa e por uma tia, irmã do meu pai, que morava com a gente, a tia Yvonne. Ela era como uma avó pra mim. Quando morreu, eu tinha 19 anos e sofri demais.
Ela e as empregadas é quem me levavam pra escola, me buscavam, me levavam pro balé, pro jazz, pra natação, pra aula de piano, de inglês, japonês... e também ao cinema e à Casa de Rui Barbosa, onde cresci brincando. 
 

Talvez por ter mais tempo do que minha mãe, meu pai me acompanhava mais. Ele costumava me levar para nadar no clube - o Fluminense - e até hoje adora narrar minhas travessuras na piscina. Ele gostava também de me ver jogando handebol nas olimpíadas escolares, principalmente quando elas aconteciam dentro do Forte São João, na Urca. Conta cheio de orgulho que os outros pais diziam: "Essa menina é danada"! 
E na minha primeira audição de piano ele foi e, pra ele, eu fui a mais aplaudida. Já minha mãe não foi, ficou com receio. Passei a vida achando que ela tinha ficado presa no trabalho, mas há pouco tempo ela me confessou que não foi porque achou que eu não iria tocar bem... Santa cobrança, Batman...

Abuso aos 12 anos

Fiquei menstruada pela primeira vez aos dez anos. Com isso, meu corpo se desenvolveu rapidamente, precisei usar sutiã e me tornei a garota mais alta da turma. Quando eu estava na 6ª série - hoje o 7º ano do ensino médio -, comecei a ser assediada por um professor. Ele era jovem, devia ter 25 ou 26 anos, não era bonito, mas praticava esportes radicais, andava com roupas de grife e, acho que por isso, chamava a atenção de algumas meninas.
  
Um dia, durante o recreio, um grupo de amigas presenciou uma dessas investidas. Ele mandava recados por elas, dizia que era apaixonado por mim, que queria namorar comigo. Isso me deixou muito envergonhada.
Mas como a maioria das crianças que sofrem algum tipo de abuso, eu me sentia culpada também; achava que de alguma forma eu tinha provocado aquela situação. Pedi então para a minha mãe me tirar da escola - a escola onde estudava desde o pré-escolar, onde tinha todos os meus amigos, onde era representante de turma, capitã do time de handebol...
Ela estranhou o pedido, mas não a ponto de impedir que eu tomasse a decisão. Acho que ali faltou diálogo, sensibilidade, entrosamento entre meus pais e eu. Se eles tivessem forçado a barra, talvez tivessem descoberto a tempo o que estava acontecendo comigo.

Mudei de escola, mas os problemas não pararam. O tal professor descobriu meu novo colégio e passou a me esperar do outro lado da calçada na hora da saída. Me esperava também na porta da academia onde eu malhava e às vezes me seguia até em casa. Eu sempre andava acompanhada de uma empregada, mas isso não o intimidava. Um dia me colocou dentro do carro dele e me levou para um "passeio". Nesse passeio, abusou de mim. 

Eu ainda era muito ingênua, continuava sendo a menina que não falava palavrão e nem usava maquiagem. Mas a partir daquele dia, sei que alguma coisa dentro de mim mudou. Mudou pra pior.

Corri para a casa de uma amiga e contei o que tinha acontecido. Ela me explicou calmamente tudo o que sabia, já que tinha um irmão. "Meninos fazem coisas estranhas mesmo, meio nojentas, mas se fizeram com você é porque te acham bonita". Quanta ingenuidade...

Meu pesadelo só acabou quando criei coragem de contar pra minha mãe. Naquele dia, ele ligou pra minha casa e ficou dizendo coisas obscenas pra mim, coisas que na época eu não entendi, mas sabia que eram "inadequadas". Chamei minha mãe e pedi para ela escutar a conversa na extensão. Uma frase foi suficiente para deixá-la transtornada. Lembro que ela gritava: "Se você procurar a minha filha de novo, eu te mato!" Felizmente, não precisou matar. Ele me deixou em paz.

Em paz é modo de dizer porque carreguei esse trauma comigo durante anos e anos. E a isso, mais tarde, somatizou-se o alcoolismo do meu pai, a aposentadoria da minha mãe e a consequente queda no nosso padrão de vida, a minha entrada na faculdade, a preocupação com o meu futuro... e de uma menina tranquila e estudiosa, passei a me comportar mal, a beber, fumar, repeti de ano, fiquei completamente desconcentrada, sem foco e agressiva. Me sentia perdida, desprotegida, um barco à deriva. E é assim que se sente um jovem sem um direcionamento, sem limitações, sem a segurança que só uma família pode proporcionar.

Aos 21, a primeira crise de pânico e o início da minha luta por sanidade.

Somente há dois anos mais ou menos é que levei esse assunto para a minha terapia e comecei a enfrentá-lo. Não omiti propositalmente, era como se eu tivesse colocado essa "sujeira" embaixo do tapete e esquecido por lá.
Quando esse assunto veio à tona, passei mal, chorei muito, mas minha psicóloga me convenceu de que era necessário falarmos sobre isso. Então seguimos em frente. Hoje, relembrando tudo, minhas mãos suam frio e meu coração bate disparado. É claro que não me faz bem, mas achei que era o momento de falar abertamente sobre isso com vocês e alertar sobre a necessidade de se manter um bom relacionamento com os filhos, com os netos, com os alunos. De prestar atenção em mudanças bruscas de comportamento, em uma tristeza aparentemente sem motivo. Queria acrescentar ainda que não me faltou amor dos meus pais, eles sempre foram carinhosos e dedicados dentro das possibilidades deles. Me faltou atenção, esclarecimento por parte deles. E h
oje temos muita informação ao nosso alcance, profissionais bem mais preparados para ajudar nesse tipo de situação, remédios e terapias eficazes. Temos muito mais chance de evitar que isso aconteça.

Gostaria de dividir com vocês também um trecho do livro que estou lendo e que tem tudo a ver com o que acabei de relatar. Um grande abraço a todos, coragem, força, amor e paz!

Vítimas de maus-tratos na infância

"Alguém que tenha sido o predileto incontestável de sua mãe carrega pela vida afora um sentimento de vitória e uma certeza de ser bem-sucedido, que frequentemente levam de fato ao sucesso." A frase é do pai da psicanálise, Sigmund Freud (1856-1939). Ela mostra como o cuidado e o amor na primeira infância são fundamentais para o desenvolvimento saudável e a trajetória de uma pessoa ao longo da vida. Pessoas que foram abandonadas, negligenciadas, sofreram violência física e psicológica ou abuso sexual quando crianças têm mais chances de desenvolver transtornos psíquicos na vida adulta. Os traumas na infância podem predispor a uma série de problemas, como depressão, ansiedade, uso excessivo de álcool e outras drogas, distúrbios alimentares e transtornos de personalidade. Estudos estatísticos permitem estimar que entre 25% e 35% das crianças vítimas de maus-tratos terão depressão quando chegarem aos 20 anos de idade.

(...) Em seu livro O inimigo no meu quarto, o psiquiatra e psicanalista Yoram Yovell explica em detalhes como os mecanismos da memória atuam nos eventos traumáticos. "Em momentos de tensão elevada, é possível que o hipocampo, que registra a memória explícita do que está ocorrendo, pare de funcionar. Ao mesmo tempo, a amígdala funciona muito bem, exercendo sua função de memorizar de modo implícito e inconsciente as reações de medo e os estímulos que as provocam". O resultado é o seguinte: "o trauma , em si mesmo, não é lembrado, apesar de ser possível, em certos casos, recordá-lo. Mas o medo e a angústia do trauma são muito bem memorizados, assim como os estímulos ligados a eles". 

Há ainda outros mecanismos envolvidos na relação entre o trauma da infância e os transtornos mentais que surgem na vida adulta. Yovell explica que bebês e crianças que passam por situações de tensão emocional com muita frequência tendem a ter os circuitos cerebrais ligados ao estresse alterados, o que as coloca num estado de "emergência permanente" e as torna mais vulneráveis a episódios de depressão e pânico na vida adulta. 

(...) Os prejuízos causados pelos maus-tratos na infância não ocorrem apenas nos casos graves de abandono, violência física ou abuso sexual. Situações mais sutis também podem causar danos no futuro".

(trecho do livro Não é coisa da sua cabeça, de Naiara Magalhães e José Alberto de Camargo - editora Gutenberg, 2012)

Imagens: internet